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Peter Griffiths O que é o King's Fund e o Serviço de Qualidade em Saúde (HQS)? Em termos genéricos, pode-se afirmar que o King's Fund é uma "agência de desenvolvimento" que zela pelo desenvolvimento e melhoria das condições de saúde no Reino Unido, tendo sido criado há cerca de 100 anos pelo Rei Eduardo VII com o objectivo inicial de angariar dinheiro para ajudar os hospitais de Londres. O Serviço de Qualidade em Saúde (HQS), criado no âmbito do King's Fund, surgiu em Janeiro de 1988 e tem como missão a melhoria da qualidade dos serviços de saúde, principalmente dos que são prestados nos hospitais. O trabalho desenvolvido pelo HQS realiza-se em conjunto com a administração, médicos enfermeiros e restante pessoal das instituições, cabendo ao HQS apoiar estes responsáveis a melhorar os seus desempenhos. Que razões motivaram a criação do Serviço de Qualidade na Saúde? Tudo começou no final da década de oitenta, quando o King's Fund decidiu desenvolver programas de melhoria da qualidade dos serviços de saúde prestados pelas instituições de saúde do Reino Unido. Perseguindo este objectivo, realizámos uma investigação sobre os programas de acreditação já existentes noutros países: reunimos um pequeno grupo de pessoas e enviámo-lo a observar o que se fazia nesta área, nomeadamente, no Canadá e na Nova Zelândia. Como resultado da pesquisa, foi possível concluir que as metodologias de acreditação utilizadas naqueles países poderiam ser aplicadas aos hospitais nacionais e em meados de 1988 começámos a trabalhar com diversos hospitais no sentido de as aplicar. Quais os objectivos e em que consiste a metodologia de acreditação do King's Fund? O objectivo último de todo o trabalho que desenvolvemos é proporcionar aos utentes um serviço de saúde caracterizado por elevados padrões de qualidade. Para tanto, procuramos integrar as lacunas detectadas através de um processo de avaliação feita por uma equipa externa ao hospital. Nesta avaliação, são compilados todos os procedimentos que integram o trabalho de administrativos, médicos, enfermeiros, auxiliares e demais colaboradores da organização. Da análise dos procedimentos - que permite detectar erros e falhas - resultam indicações correctivas destinadas a melhorar os desempenhos, com reflexos positivos na qualidade dos serviços prestados. Por exemplo, para que um hospital funcione devidamente é necessário, entre outros requisitos, que disponha de uma direcção que potencie um trabalho de equipa efectivo. Para que isso aconteça, é essencial que a equipa dirigente conheça as capacidades de todos os colaboradores, que fomente um bom ambiente de trabalho e garanta as condições de espaço e de equipamentos necessárias ao bom funcionamento da instituição, isento de quaisquer riscos para doentes e profissionais. A metodologia do King`s Fund integra ferramentas que permitem alcançar estes e muitos outros objectivos. Por fim, procuramos saber se os serviços prestados satisfazem as expectativas de todos os intervenientes, internos e externos. Nesta fase são avaliados, entre outros parâmetros, a satisfação dos profissionais e dos utentes e ainda, o impacto que o serviço teve na comunidade. Note-se que quando este processo é aplicado a um hospital, todos os funcionários são chamados a participar na auto-avaliação, podendo assim verificar se o seu desempenho, bem como o do hospital é, ou não, de qualidade e introduzir as medidas correctivas que se revelem necessárias.
David Sanders, director executivo para a Europa do HQS, Sir John Holmes,
A metodologia tem sido alvo de revisões periódicas? Sim, e esse é um dos aspectos mais importantes de todo o processo. Tal como os hospitais e os seus colaboradores revêem os processos com o objectivo de optimizarem desempenhos, um movimento de melhoria contínua da qualidade, também as metodolo-gias da qualidade, a do King`s Fund incluída, são sujeitas a revisões periódicas, de modo a acompanharem e a darem resposta aos novos desafios que se colocam às organizações. Da análise que fazemos do nosso trabalho e dos programas de acreditação implementados nacional e internacionalmente, retiramos ensinamentos que nos permitem melhorar a metodologia, mantendo-a actualizada. Qual o grau de penetração da metodologia do King`s Fund no Serviço Nacional de Saúde Britânico? Cobrimos cerca de 35 % dos hospitais públicos e cerca de 80% dos hospitais e clínicas privadas. Neste momento, registamos também um crescimento acentuado na área dos cuidados de saúde primários. Verificaram-se, nos últimos anos, algumas mudanças substanciais na política de saúde britânica. Como é que a metodologia se adaptou a elas? A metodologia de acreditação do HQS do King`s Fund não se encontra dependente das alterações políticas fixadas pelos Governos. Trabalhamos em conjunto com os hospitais e unidades de cuidados primários, num processo de adesão voluntária. O nosso trabalho consiste em ajudar as instituições a alcançarem os seus objectivos, num processo regido por elevados padrões de qualidade. Ora, sendo as orientações políticas determinantes para a fixação dos objectivos das organizações, é natural que o apoio que prestamos concorra para a sua realização. A metodologia não fixa os objectivos das organizações: ajuda-as a alcançá-los, independentemente de quem os fixou. Quantos hospitais se prevê venham a adoptar, nos próximos anos, a metodologia do HQSKF? Esperamos que nos próximos cinco a sete anos todos os hospitais do Reino Unido tenham aderido à metodologia. A realização deste objectivo dependerá, como é óbvio, da nossa capacidade de satisfazer as necessidades das organizações. Indique três exemplos de vantagens resultantes da aplicação da metodologia do King's Fund? A primeira grande vantagem traduz-se no seguinte: um hospital que trabalhe connosco oferece uma muito maior segurança. Isto porque quando introduzimos a metodologia num hospital e iniciamos os processos de avaliação dos procedimentos, rapidamente detectamos e anulamos os erros. Uma vez que a avaliação é contínua, permitindo integrar lacunas e verificar a segurança de todos os actos e a sua conformidade com a legislação aplicável, o risco de falhas é substancialmente reduzido. Pelo contrário, a segurança dos utentes e dos próprios profissionais aumenta significativamente. Uma outra vantagem que a metodologia oferece respeita aos registos médicos. A maioria dos hospitais do Reino Unido não possui um modelo uniforme de registo. Cada qual tem o seu e em muitos casos dentro de um hospital cada serviço adopta um modelo próprio, situação que conduz, frequentemente, a dificuldades na consulta e tratamento da informação. A metodologia que propomos "normaliza" o procedimento já que introduz um modelo padronizado de registo médico. A terceira grande vantagem é a melhoria dos equipamentos de saúde, entre outros parâmetros, no que se refere à acessibilidade. Por exemplo? Quando um paciente vítima de um enfarte do miocárdio dá entrada no hospital, todos os procedimentos de acesso aos cuidados especializados encontram-se definidos, o mesmo acontecendo relativamente aos equipamentos e à composição da equipa de atendimento. O doente não espera! É atendido imediatamente por equipa especializada - previamente definida - e tem acesso aos melhores equipamentos para a resolução do seu caso. Que razões motivaram a internacionalização do King's Fund e, mais especificamente, a sua vinda para Portugal? Em primeiro lugar, a possibilidade de melhorarmos a metodologia integrando o que de melhor se faz noutros países: poder aplicar no Reino Unido o que de bom se faz em Portugal e partilhar com as organizações portuguesas as metodologias que se revelaram eficazes nos serviços de saúde ingleses. No fundo, optimizar a metodologia através da partilha de experiências. Este é, aliás, o objectivo de todos os sistemas de saúde e de todas as organizações que trabalham na área da saúde. Estou certo de que, nos próximos anos, teremos uma Europa com serviços de saúde conformes aos mais elevados padrões de qualidade e o HQS do King`s Fund quer ser parte activa nessa mudança. Quais as principais razões que na sua opinião fundamentam a opção pela metodologia do King's Fund? A primeira é que concentramos em uma única metodologia o que existe de melhor na área da qualidade na saúde: o próprio King`s Fund, o modelo EFQM e a certificação ISO: "três em um", para o bem-estar e saúde dos utentes. No Reino Unido somos conhecidos pela "loja única da qualidade". É possível fazer-se um balanço da aplicação do HQS do King's Fund em Portugal? Não, uma vez que os hospitais que aderiram ao projecto ainda se encontram na primeira fase do programa; ainda estão a avaliar os seus procedimentos e capacidades com os nossos padrões e é essa comparação que vai determinar o que se irá fazer na fase seguinte. Esta primeira avaliação durará entre 8 e 12 meses. Em temos de futuro, qual é o principal objectivo em relação aos hospitais portugueses? A principal meta é ajudar o Governo e o Instituto da Qualidade em Saúde a desenvolverem um programa próprio de acreditação para que no final destes cinco anos de contrato seja possível falar num sistema português de qualidade na saúde. E é isso que pretendemos ao partilhar convosco a nossa sabedoria e experiência nesta área. Que conselho daria aos profissionais que iniciaram agora a aplicação do Programa HQS King's Fund? Para que este programa dê bons resultados tem de existir um forte empenho de todo o pessoal envolvido. Não só as estruturas de topo, mas todos os colaboradores da organização devem ser parte activa na implementação da metodologia. Todos, sem excepção, são essenciais ao sucesso da instituição. |
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